Neste artigo, você entenderá por que muito Parkinson não é Parkinson de verdade, por que muita labirintite não é labirintite e leva a falso diagnóstico de Parkinson e por que muito Alzheimer não é Alzheimer, é só produto dessa confusão toda.
É importante você ler, porque pode fazer você se livrar, no futuro, dessa confusão.


Fico realmente incomodado quando vejo pessoas e pacientes se apegando a rótulos de diagnósticos, que eventualmente receberam de um médico, e achando que tais rótulos são certos, precisos, definitivos e explicam realmente seus problemas e o que têm que fazer a partir daí. (No caso do Djavan, ao que parece, o diagnóstico ficou como “tremor essencial”, mas mesmo isso é duvidoso, porque, sim, há causas. E fica a pergunta: “Elas foram esclarecidas e resolvidas?”)
Fico mais incomodado ainda quando médicos dão esses rótulos de maneira também pouco refletida e superficial. E, principalmente, quando dão apenas a prescrição de remédios alopáticos para o rótulo.
Essa situação aparece frequentemente no consultório, até mesmo quando a gente encaminha pacientes para especialistas e eles retornam assim. Mas também vemos bastante nos meios de comunicação, redes sociais e em outras formas de expressão, como livros, novelas, cinema, etc.
“Parkinson” que não é Parkinson
O paciente vem apresentando tremores crônicos nas mãos. Vai em algum médico e recebe diagnóstico de Parkinson e uma ou duas medicações da indústria farmacêutica. (Vi caso real assim recentemente.)
Mas, espere um pouco, há vários outros diagnósticos possíveis para tremores nas mãos!
E, ainda, sabemos, pela nossa visão da Medicina Funcional, que, em geral, doença que não tínhamos aparece por intoxicação gradual do corpo, até por má alimentação ou deficiência de vitaminas e nutrientes. Ou por algum outro distúrbio metabólico, de tireoide, por exemplo. Ou contaminação ambiental, eletromagnética, etc. Há muitas causas possíveis.
No caso de tremores, existem até remédios, bastante comuns no Brasil, que depois de um tempo de uso causam tremores. Ou seja, as causas podem ser várias e não apenas a específica alteração no metabolismo da dopamina que caracteriza a doença de Parkinson.
Porém, uma pessoa vai em apenas um médico, passa por apenas uma avaliação do problema, recebe um diagnóstico que, para a Medicina convencional, é de uma doença progressiva e incurável e fica para sempre com esse rótulo. E ainda fazendo o tratamento baseado nesse rótulo ou verdadeiro estigma.
Entendeu a dimensão do problema? E o pior é que esse feitiço do diagnóstico acaba sendo legitimado pela família, por outros médicos do paciente que também avaliam superficialmente a situação e, até inocentemente, aceitam o diagnóstico dado por colega especialista, por todo o sistema de saúde e pela sociedade em geral.
Claro que, se for realmente Parkinson, é importante ter o diagnóstico. Muitos casos, no entanto, não são.
Vamos a outro exemplo:
“Labirintite” que não é labirintite
O paciente vem tendo tonturas. Rapidamente recebe o diagnóstico de “labirintite”. Ah, e também um remédio para a tal labirintite.
A pessoa pensa que encontrou a causa do problema da tontura. Encontrou, na verdade, apenas um rótulo que faz ligação direta com um remédio. Mas as verdadeiras causas nem foram pesquisadas.
Tonturas também podem ter causas muito diversas. Desde problemas nutricionais e deficiências de vitaminas (como a B12), exposição tóxica ambiental, causas hormonais e metabólicas (por exemplo, diabetes ou hipoglicemia) e até causas psíquicas e emocionais, cardíacas (por exemplo, arritmias) e outras.
Problemas nos ouvidos ou no sistema nervoso central também podem causar tonturas.
E, labirintite, ao contrário da doença de Parkinson, nem é uma doença específica em si. É apenas um nome que, pela definição, significa inflamação do labirinto, um estrutura do ouvido interno. E a maioria dos casos de diagnóstico de labirintite não são inflamação do labirinto, portanto, não são labirintite.
A “labirintite” dá voltas e vira “Parkinson”
Mas a pessoa que recebe o rótulo se satisfaz, começa a tomar remédio, parece que o remédio ajuda e… desenvolve Parkinson depois. Ops, não Parkinson, mas parkinsonismo, tremores nas mãos (como o Djavan).
Sim! Alguns remédios para “labirintite” são famosos por, depois de um tempo de uso, criarem tremores nos membros. Como não se trata de doença de Parkinson, isso se chama parkinsonismo.
Os remédios para “labirintite” que podem causar parkinsonismo são aqueles cujo nome termina com “rizina”, como cinarizina. Muito conhecidos e usados no Brasil. Por exemplo, os famosos “Stugeron” e “Vertix”.
Esse paciente, agora também com tremores, procura um médico. Se a avaliação feita pelo médico é superficial, o que acontece com o paciente? Ele recebe o diagnóstico de “Parkinson”. E remédios para Parkinson, com seus efeitos colaterais. E assim segue a vida: errada.
Eu aprendi isso quando minha mãe começou a apresentar tremores, foi a médico que suspeitou de Parkinson e a família inteira começou a falar que ela estava com Parkinson. No entanto, eu a levei a uma excelente professora da Faculdade de Medicina da USP (onde me formei), Dra. Maria do Patrocínio, que rapidamente percebeu que os tremores eram causados por anos tomando cinarizina para “labirintite”. Ela parou de tomar e os tremores sumiram para sempre.
“Meu”, e depois de tudo isso, os pacientes ainda continuam tomando o remédio para “labirintite”! Acontece em muitos e muitos casos…
Agora você entendeu como a cultura de apenas procurar um rótulo e remédio pode fazer mal para a saúde, mente, bolso, relações, felicidade, longevidade e toda a vida do paciente? Isso pode acontecer com você.
“Alzheimer” que não é Alzheimer
Bom, o paciente acima agora está tomando o remédio para labirintite e, como, por isso, os tremores não melhoram tanto com um só remédio para tremores, ele passou a tomar vários medicamentos para Parkinson. Também um antidepressivo, “vai que ajuda…”
Esse paciente, provavelmente, também toma medicações para outras doenças, como hipertensão, próstata, coração.
Se você abrir as bulas desses remédios todos, elas mostram uma farta coleção de possíveis efeitos colaterais. Um tanto quanto intoxicado com tantas drogas, a pessoa passa a sentir-se dopada, inflamada, incomodada. Seus sentidos ficam embotados, a relação com as outras pessoas prejudicada.
Muitos medicamentos também têm efeitos colaterais pouco conhecidos de depleção de nutrientes e vitaminas.
Nunca deixe de tomar os remédios que seus médicos indicarem, porém, converse sempre com eles sobre otimização de eventual polimedicação (excesso de remédios).
Continuando… A própria memória da pessoa começa pouco a pouco a se deteriorar, os outros começam a notar que ela se confunde, não se lembra de coisas básicas. Incentivam ela a falar isso pro médico especialista. E…
Agora ela recebe o diagnóstico (rótulo) de mal de Alzheimer. Afinal, já está idosa mesmo e isso é comum nessa faixa etária, não é? (Não.) Entope-se, então, com mais alguns remédios que a indústria farmacêutica pesquisou e aprovou para Alzheimer. E assim vai.
Triste, né?
Você imagina que histórias assim acontecem no mundo todo com milhares de pessoas? Tudo devido à cultura de apenas receber (ou dar, dependendo do lado da mesa em que você está) um rótulo e tomar (ou prescrever) só tratamentos farmacêuticos.
Mas, se, lá no começo, os tremores nas mãos ou as tonturas fossem entendidos de maneira diferente, será que toda essa história infeliz teria acontecido?
Contei aqui exemplos específicos de “Parkinson”, “labirintite” e “Alzheimer”. Mas “confusões” de rótulos inadequados como esses acontecem com vários nomes de doenças. Escreverei novos artigos com outros exemplos ainda.
Cada vez mais alguns diagnósticos vêm sendo dados com critérios menos específicos que antes, os médicos são mais autorizados a diagnosticar com base em sinais clínicos apenas e aumenta a tendência de rotular para se chegar rapidamente a uma medicação que, inclusive, satisfaz a expectativa do paciente e familiares.
Aparentemente todos ficam felizes, mas é uma felicidade enganosa.
Qual seria o antídoto para esses problemas?
Mesmo com diagnósticos corretos, a estigmatização pelo rótulo e o consequentemente tratamento superficial e tóxico apenas com remédios são o mais comum.
Isso acontece por que não se encara com seriedade o que a Medicina Funcional já fala há algum tempo. O fato de que a maioria das doenças crônicas ocorre, se perpetua e piora devido a fatores de estilo de vida, como alimentação, ambiente e outros.
As pessoas (e talvez você neste exato momento) ouvem isso e acham que é algo esotérico, irreal, que não tem tanto impacto assim ou não tem nenhuma relação com a doença delas. Estão completamente enganadas! É, de fato, realmente o que tem impacto e a verdadeira causa dos problemas de saúde.
As pessoas não ficam doentes crônicos por falta dos remédios da indústria farmacêutica. Ficam porque produziram seus problemas ao longo dos anos, sem perceber. (Ou foram intoxicadas por algo também, mais recentemente… Pode ser.)
Elas são vítimas de uma cultura de informação de saúde dominada, até por interesses econômicos e por medos corporativistas, pela abordagem de apenas dar um nome para a doença e saber qual o remédio farmacêutico para esse nome.
O antídoto é entender o que a Medicina Funcional vem explicando há anos, abandonar a identificação e o apego a rótulos de doenças, conscientizar que não se tratam doenças apenas com remédios e, mais importante, investigar e corrigir as verdadeiras causas que produzem os desequilíbrios de saúde do corpo.
Em geral, essas causas estão nas raízes da saúde, como digo: alimentação, ambiente, movimento, sono e emoções (esta, de longe, a mais importante).
Espero que tenha aprendido algo importante neste artigo.
Grande abraço e bom fim de semana!
Nesta semana, ouvi um episódio de podcast de um especialista norte-americano que dizia que é um mito achar que é sempre preciso obter diagnóstico para começar a se curar. Pode-se começar mesmo antes, melhorando a alimentação e o estilo de vida. E, às vezes, mesmo não encontrando o diagnóstico, isso resolve o problema.
Muito bom🌺
Perfeito Dr Vítor! Excelente artigo e alerta - muito grata por compartilhar seus saberes de forma tão aberta e esclarecedora🙏