Este artigo não é de saúde e medicina. Escrevo aqui na coluna tudo que considero importante para o leitor. Este é sobre nossa sociedade. Leia-o até o fim, pois ele pode ajudar a ficarmos mais inteligentes, entendendo melhor por que a humanidade sofre tanto.
É um sentimento que vem das entranhas da gente como médico. Deparando-me com a perda da saúde, um quadro de doença, principalmente grave e pouco entendida, fico com vontade absurda de ajudar, de avaliar, diagnosticar e encontrar solução de tratamento. Um caminho de melhora, a partir do entendimento da situação.
É isso o que acontece comigo hoje. O paciente doente é a nossa sociedade. O mundo todo. E fica aquela vontade de ajudar a entender e encontrar soluções. Até porque a doença da sociedade atinge a gente também. Todos nós.
Neste artigo, vou colocar para você minha avaliação atual de por que nossas sociedades estão sofrendo tanto. Quais os sinais e sintomas, o quadro clínico, qual o diagnóstico e o tratamento possível.
Este não é um trabalho meu como médico. É um trabalho de filósofo social (ainda bem que ainda não inventaram obrigatoriedade de diploma de filósofo social).
Esta avaliação não está isenta de erros, nunca estamos, ou de necessidade de correções no futuro, mas é uma avaliação que pode ajudar você, assim como me ajuda, pelo menos, como acontece com todo doente que encontra uma explicação para seus problemas e caminhos de solução, a se sentir melhor por saber o que fazer para se livrar do sofrimento e melhorar a si mesmo e a todos nós.
Sinais e sintomas da doença social
Os sinais e sintomas são claros e já existem há muitas décadas. Porém, parece que têm piorado nos últimos anos. Começam por crises econômicas. Pessoas ficando mais pobres, não conseguindo patrimônio básico, como casa própria e poupança para o futuro. Isso pode se resumir como insegurança econômica geral. Não acontece apenas no Brasil; com a inflação mundial, está acontecendo em todo o mundo. Insegurança econômica é um tipo claro de sofrimento. Já passou ou está passando por isso?
Outro sofrimento que tem piorado nos últimos tempos é o da insegurança pessoal de saúde. Milhões de pessoas, na verdade, bilhões, no mundo todo, sofrem com doenças crônicas das quais não precisariam sofrer. Passam as últimas décadas de suas vidas com o fardo de dependência de medicamentos e sistemas de saúde precários ou caros, gastando boa parte de sua renda ou poupança com isso ou, pior, de seu pouco tempo restante de vida. Isso sem falar nas ameaças reais ou exageradas de doenças agudas, como as das “pandemias”.
E das doenças orgânicas passa-se facilmente para as doenças e desequilíbrios mentais e emocionais. Dificilmente se viu uma época com tantas pessoas infelizes, com depressão, ansiedade, síndromes emocionais disso e daquilo, problemas de relacionamentos, solidão, vícios e desconexão com si mesmas, com suas famílias, comunidades e natureza. O uso de medicações psiquiátricas é recorde no mundo todo. Isso é sinal de que estamos progredindo ou regredindo em felicidade?
A infelicidade ainda se manifesta claramente nas pesquisas que mostram que a maioria das pessoas se engaja em trabalhos insatisfatórios e que considera sem sentido. Como pode uma pessoa ser feliz, saudável e financeiramente segura dessa forma?
Por fim, o equilíbrio de nossas vidas pessoais também é abalado pelos conflitos e tensões sociais. Violência, corrupção, desperdício de recursos públicos, poluição de todos os tipos, custo de vida impraticável, notícias ruins o tempo todo, guerras e divisionismo político, instituições públicas pouco confiáveis. Ainda existem fome, miséria, crianças morrendo por desnutrição, falta de saneamento básico em vários lugares do mundo, alguns ao nosso lado. Situação de crises sem fim e com pouca esperança de melhora.
Resumindo, insegurança econômica, precariedade de saúde, desequilíbrios emocionais e problemas sociais geram sofrimento pessoal intenso na maior parte da humanidade hoje.
Parece que nossas sociedades apresentam quadro clínico de paciente grave? Obviamente que sim.
Meu diagnóstico
Diagnóstico significa buscar as causas verdadeiras do quadro clínico, não só dar um nome para ele. E todo bom diagnóstico começa com descrição adequada dos sinais e sintomas, como fizemos acima.
Perceba que, nessa descrição, comecei com o problema econômico, depois o de saúde, depois o emocional e, então, o social. Isso não foi por acaso. Acredito que a doença acontece assim mesmo, nessa ordem. O sofrimento econômico gera o ataque à saúde; os dois juntos criam o emocional; e os três juntos produzem o social.
O econômico é, atualmente, o mais importante. As pessoas não só se sentem inseguras financeiramente, como também as distorções atuais da saúde, psicológicas e sociais são motivadas por essa insegurança. Por exemplo, vemos a ganância das más indústrias alimentícias parasitando a saúde da população, temos o desajuste emocional de as pessoas, em todos os níveis de hierarquia social, buscarem dinheiro, inclusive por meios corruptos e ilícitos, e os conflitos sociais e mundiais também são decorrentes dessa busca por controle de recursos econômicos.
No meu último podcast, exclusivo para apoiadores da coluna, mencionei uma experiência científica que ficou conhecida como “Rat Park”. Os ratinhos colocados em gaiolas, estressados, ficavam viciados em heroína. Os ratinhos colocados num amplo espaço natural, com comida boa e interagindo com outros ratos, não ficavam viciados mesmo tendo heroína à disposição. O experimento mostra a importância de todo o contexto de vida para as emoções e a saúde.
E qual a principal causa desse problema econômico e financeiro mundial?
Esta é a minha resposta, de um médico que não estudou apenas Medicina, mas muito já de Escola Austríaca de economia, libertarianismo, filosofia política e sempre se interessou por esses assuntos, até mesmo porque eles discutem a base de nossos problemas.
A causa-raiz do problema econômico e financeiro mundial é…
A causa da maior doença do mundo hoje é o controle dos sistemas monetários pelos governos. Ou, falando de modo diferente, a falta de independência da moeda.
Memorize essa causa para entender o restante do artigo.
A partir dessa causa, toda uma série de erros e distorções1 que prejudicam a saúde das sociedades se forma e se mantém. É como o consumo de excesso de açúcar, que desencadeia uma sequência de problemas de saúde que, no seu estágio final, acaba fazendo a pessoa passar por sofrimentos e leva à morte. Mas, antes de explicar quais são esses grandes erros e sistemas sociais corrompidos, preciso esclarecer melhor o que se entende por sistema monetário controlado por governos.
Moeda controlada por governos
Você já percebeu que todas as moedas do mundo, sejam dólar, euro, real ou outras, são controladas por governos? Sim, são emitidas por governos (ou seus bancos centrais) e são administradas e, esta é a palavra-chave, manipuladas por governos. “Mas não deveria ser mesmo assim? Qual o problema disso?”
Bem, vivemos num planeta com abundância de recursos. O próprio avanço tecnológico proporciona aumento ainda maior desses recursos. Produzimos comida, habitações, meios de locomoção, vestuário, móveis, artigos eletrônicos, de conveniência, enfim, bens e serviços, a partir dessa abundância de recursos do planeta. Até aí, tudo bem.
Mas como podemos trocar tudo isso entre nós? Uns produzem umas coisas, outros produzem outras e os produtos e serviços precisam ser trocados para serem bem usados. Fazemos isso atribuindo valor de troca a cada bem e serviço. E usamos como instrumento ou medida dessa atribuição de valor as moedas (por exemplo, dólar ou real).
Deu para entender até aqui? A moeda serve para que bens e serviços possam ser trocados entre as pessoas. Ela é um atributo de valor, meio de troca e de poupança (poupança significa poder de trocas futuras). Por exemplo, a assinatura paga aqui da nossa coluna custa 9,99 reais por mês (aproveite e faça seu upgrade agora, se ainda não fez, antes que a inflação aumente isso). Seu trabalho vale tantos reais por mês. Ontem comprei um pacote de café orgânico por 40 reais, e assim por diante. É esse o papel da moeda.
Na verdade, esse é um meio tão automático, natural e mundial de troca que, à medida em que os mercados se globalizam, a verdadeira moeda é sempre uma só e as outras são apenas reflexos locais da principal, que, hoje, ainda é o dólar norte-americano. Falamos no Brasil em reais porque os preços aqui são expressos assim; mas, como existe sempre uma taxa de conversão do real para dólar, esses preços poderiam ser expressos em dólar, sem problemas.
No passado, foram usados outros objetos como moedas, não só o papel-moeda atual emitido pelos governos: conchas, sal, prata, ouro e outros. As sociedades do passado tentavam usar o objeto que era mais difícil encontrar ou produzir, na época, para elas.
O que quero que você entenda até aqui é que podemos considerar a produção de bens e serviços com seu potencial ilimitado, porém, e aqui está a principal chave para o entendimento, o meio de atribuição e quantificação de valor desses bens e serviços e de poupança, a moeda, tem que ser o mais fixo (limitado) possível (por exemplo, ouro ou prata eram). Isso porque a moeda é um meio de medição (no caso, de valor de troca). Ela é uma unidade de medição, na verdade2.
Na economia, o objeto de medição é o conjunto de bens e serviços da humanidade e do planeta, que tende até a aumentar com o tempo e com o avanço da tecnologia. Mas o meio de medição disso tem que ser limitado, fixo. A quantidade total de moeda em circulação no mundo tem que ser fixa, limitada, para servir corretamente como meio de medição de valor dos bens e serviços. Se existem 500 trilhões de dólares no mundo, deveriam existir apenas e para sempre apenas 500 trilhões de dólares no mundo. Essa quantidade não poderia mudar nunca, sob o risco de que, mudando, toda a economia mundial perde seu referencial de valor correto de todos os bens e serviços.
É como se o metro, que é meio de medida de comprimento, mudasse de comprimento, passássemos a chamar de um metro o que antes era um metro e vinte centímetros. Imaginou a confusão? Ou se o grau Celsius mudasse de valor, passássemos a chamar de 1 grau o que antes eram 3 graus Celsius. Ou se o quilograma passasse a ser o que hoje são 800 gramas, ficaríamos todos mais gordos, no papel apenas. É para não criar essa confusão generalizada nos meios de medida usados pela humanidade que eles precisam ser fixos, definidos, e para sempre assim. Se não forem para sempre, não temos nem como comparar corretamente o passado com o presente.
Devido ao fato de a moeda ser um bem intermediário de trocas e unidade de valor para essas trocas, atuando como medida comparativa, ela é o único bem que precisa ser fixo em quantidade, para que a comparação seja real através do tempo e não se distorça. Isso equivale à exigência de que um metro tenha o espaço de comprimento igual sempre, um grau Celsius tenha o delta de calor igual sempre e um quilograma tenha o peso igual sempre. A representação do total da economia (todo o conjunto de bens e serviços da humanidade) em uma moeda tem que ter um valor fixo sempre3.
Até aqui, a humanidade já havia criado meios de medição fixos e excelentes para vários itens importantes na vida e relações humanas, como para comprimento (o metro), temperatura (graus Celsius), pressão (pascal), velocidade (metros/segundo), peso (quilograma) e outros mais. Mas, infelizmente, para valor de bens e serviços, ainda não adotou um meio de medição realmente fixo e confiável.
Isso acontece porque os meios de medição de valor, as moedas, são controlados pelos governos.
Esse controle significa possível manipulação, principalmente depois que, nas primeiras décadas do século XX, foi-se gradualmente abandonando o lastro das moedas com o ouro (que tem quantia relativamente fixa, mas, mesmo assim, não perfeitamente fixa). A manipulação gera o que, em economia, se chama expansão ou retração da base monetária, aumento e redução do dinheiro em circulação, a bel prazer de quem controla a moeda.
É como se o governo pudesse diminuir o comprimento do metro, para todo mundo no papel ficar mais alto. Ou aumentasse o peso de um quilograma, para todo mundo ficar mais magro (e supostamente saudável) no papel apenas. Ou se diminuísse o calor de um grau Celsius, para dizer que estamos fritando no suposto aquecimento global (melhor nem dar essa ideia).
Esses sistemas de medição, sendo assim manipulados constantemente pelos governos, não só perderiam a confiabilidade, como perderiam principalmente seu uso prático, não teriam mais função verdadeira de medição, só de enganação. Imagine pessoas de países onde governos manipulam diferentemente essas formas de medição tentando interagir e conversar sobre comprimento, peso e temperatura. Só relações baseadas em falsas medidas aconteceriam, bagunçando a vida de todo mundo e criando desconfiança generalizada.
E é isso o que acontece nos nossos dias, por termos um sistema monetário controlado e manipulado por governos e bancos centrais. As informações econômicas são viciadas, não transmitem verdadeira informação de valor dos bens e serviços e todo o mercado de trocas local, nacional e mundial fica confuso e não funciona direito. Pior ainda, as decisões de investimento e desinvestimento do setor produtivo também tornam-se equivocadas, gerando uma espiral de problemas financeiros e suas más consequências para trabalhadores e empresários.
Para você entender melhor isso, está faltando explicar como os governos manipulam as moedas…
Governos manipulam moedas porque as controlam
Governos são os emissores de moedas e, hoje em dia, nem precisam de lastro em ouro ou qualquer outra coisa escassa para emitir. Quando imprimem mais moeda, os governos estão alterando o padrão de medida e poupança de riqueza, como se aumentassem o comprimento do metro, o peso do quilograma ou a temperatura de um grau Celsius. É fácil você entender isso. Esse aumento é chamado de aumento da base monetária.
Quando a base monetária aumenta, os valores dos bens e serviços medidos nessa moeda, ou seja, os preços, também aumentam. É isso que se chama inflação, mais tecnicamente, inflação monetária.
Por que o governo imprime mais moeda? Para sustentar seus tremendamente grandes gastos, cada vez maiores em praticamente todo o mundo.
Por exemplo, quem você acha que está pagando as novas guerras e as medidas restritivas exageradas da “pandemia”? Nós, via governos (a inflação é uma dessas formas de pagarmos). Sem falar dos gastos do tamanho igualmente exagerado dos próprios governos, com departamentos e mais departamentos de tudo e mais um pouco e cargos e mais cargos públicos, alguns com privilégios que, já sabemos, principalmente no Brasil, são absurdos.
A manipulação da base monetária, hoje em dia, não se dá apenas pela impressão ou colocação no mercado de mais moedas pelo governo. Esse sistema manipulável, não atrelado a algo real e limitado em quantidade, dá margem a que também bancos aumentem a base monetária por meio do crédito via moeda inconsistente. É como se os bancos também aumentassem a base monetária. É assim que se formam bolhas econômico-financeiras que explodem de tempos em tempos.
O governo ainda manipula a base monetária controlando as taxas de juros oferecidas ao mercado para compra de títulos governamentais. Promete pagar mais ou menos por esses títulos no futuro, aumentando ou reduzindo os juros. Quando a inflação monetária aumenta muito devido ao excesso de dinheiro em circulação, o governo aumenta os juros para se financiar via títulos públicos e não via impressão de moeda. Toda a economia sofre com a manipulação dos juros. Quando a inflação parece sob controle, o governo reduz os juros também artificialmente. O aumento ou redução de juros pelos governos se transmite a toda a economia, que vive, assim, numa montanha russa. Mas quem irá pagar os juros que o governo promete? Você já sabe.
Em uma espiral contínua de manipulação da quantidade de moeda e dos juros públicos, como é possível a moeda ser um meio fidedigno de medida de valor (preços) assim?
E não é. Com a moeda oscilando em quantidade, todos os preços ficam também desregulados e a economia fica sem informação do verdadeiro valor dos bens e serviços. As trocas de produtos e os investimentos se dão nesse ambiente enganoso e surgem sérios desequilíbrios econômicos. É natural, assim, que aconteçam fenômenos como inflação de preços, empresas em dificuldades, desemprego, impossibilidade de as pessoas pouparem, impossibilidade de adquirirem patrimônio, de terem seu lazer, fazer suas viagens, pobreza, miséria e, com isso, corrupção generalizada, violência e toda sorte de problema social, problemas emocionais e problemas de saúde pessoais. (Quase todas as pessoas, numa sociedade tecnológica como a atual, poderiam ter alto padrão de vida, mesmo sem ser celebridade; mas não o temos devido a essas distorções). Vê como conseguimos assim mostrar a origem dos problemas do começo do artigo?
E os governos simplesmente conseguem manipular as moedas porque as controlam. Porque a moeda ainda não é independente dos governos, nem tem as características de um sistema de medida preciso (fixo e definido), que funcione bem no presente e como poupança para o futuro. “Mas pode ser diferente?” Veremos mais adiante que sim.
Nosso diagnóstico, então, é que a doença atual das nossas sociedades, com seus sinais e sintomas que causam tanto sofrimento, é causada por um sistema monetário manipulável e controlado por governos.
Mas como seria um sistema monetário ideal?
Antes de entender como seria o sistema monetário ideal, lembre por que ele é importante: Porque praticamente todas as nossas interações sociais são trocas de bens e serviços e para isso é preciso uma medida de valor fidedigna. Se tivermos uma medida assim, as interações humanas tornam-se honestas, autênticas e bem informadas, com a moeda sendo instrumento real e eficiente de troca e poupança (capacidade de trocas futuras). Isso traz todo um horizonte de confiança, prosperidade, equilíbrio para a humanidade. Assim como, por exemplo, a engenharia progrediu com o sistema métrico fidedigno, a sociedade somente terá estabilidade econômica com um sistema de medida de valor de bens e serviços correto.
E um sistema monetário ideal seria um sistema em que a moeda tivesse quantidade limitada, por exemplo, 21 milhões de unidades (spoiler: já existe um assim, pesquise ou siga os links no fim deste artigo). Poderia ser 50 milhões, 100 milhões, 1 trilhão, qualquer número que seja, mas teria que ser limitado e fixo, imutável, como o comprimento do metro. Um sistema em que ninguém nunca conseguiria aumentar esse valor e não fosse possível criar mais moeda, sempre existindo uma quantidade fixa dela.
Nesse sistema, todos os bens e serviços do mundo seriam referidos, para fim de valor de troca, nessa moeda. Os preços seriam expressos nessa moeda, os salários, os investimentos, o crédito e tudo o mais. E, à medida que a humanidade fosse produzindo mais bens e serviços, inclusive com o avanço tecnológico, o que aconteceria naturalmente com esses preços? Em vez do que está acontecendo hoje, em que todos os preços em média no mundo estão subindo, os preços cairiam. O poder de compra das pessoas aumentaria e todos ficariam mais prósperos, sim. Esse (a deflação) é o resultado natural do aumento de produtividade pela tecnologia, pois, existindo mais bens na sociedade, a sociedade fica como um todo mais rica. E isso só não acontecesse porque nosso sistema monetário é inconsistente e manipulável.
Pode ser que você ainda não esteja percebendo a importância de um sistema de medida de valor na economia correto, limitado e fixo. Porém, basta imaginar um jogo de loteria com sorteio a partir de um cesto de bolas numeradas. Se as bolas têm todas o mesmo peso e tamanho, feitas do mesmo material, ou seja, têm características fixas, o jogo é honesto e transcorre sem distorções. Se pessoas que controlam o sorteio manipulam as bolas em suas características, para que umas sejam mais selecionadas que outras, ou mesmos se colocam mais bolas com o mesmo número no cesto de bolas, ocorre fraude e o sorteio pode ser direcionado em benefício dos manipuladores.
Com um sistema monetário manipulável ocorre a mesma coisa. Governos e bancos, que estão mais próximos do ponto onde a moeda é expandida, se beneficiam do sistema e ganham maior poder de compra. As pessoas comuns, para quem essa moeda chega mais tarde, já tendo impulsionado a inflação e a distorção dos preços, ficam mais pobres. Na verdade, os manipuladores ficam mais ricos às custas das pessoas em geral que ficam mais pobres.
Num sistema monetário imune a manipulações e com quantidade de moeda fixa isso não acontece. Tal sistema precisa ser independente de governos ou de quem quer que seja.
Estamos, praticamente todos nós, mais pobres, porque, nos últimos anos, a manipulação das moedas foi enorme no mundo todo, com a desculpa de “pandemia”, guerras e outras despesas de governos. Fora que, em praticamente nenhum país, se preocupam em reduzir drasticamente os gastos públicos. E isso só acontece porque aceitamos um sistema monetário controlado por governos.
É como se aceitássemos um sistema métrico, ou de peso ou de temperatura, também controlado e manipulado. Igualmente, não daria certo. Entendeu?
Prossigamos, no entanto, na nossa avaliação da situação atual do mundo…
Por que não soubemos disso tudo antes?
Bom, os pensadores da Escola Austríaca de economia, como Mises, já nos alertaram há décadas sobre isso. Foram, porém, suprimidos nas universidades e na mídia; quase não são estudados nem são divulgados. Mas o grande problema por que informação tão importante como essa não chega até nós é que ela não interessa àqueles que se beneficiam do controle monetário pelos governos.
Os próprios governos e toda a sua estrutura de influência não têm interesse algum em perder o controle e o poder de manipular o sistema monetário. Aqueles bancos e a elite financeira que, há décadas, se beneficiam desse sistema, que muitos propriamente chamam de sistema fiat, também não têm interesse algum.
Fiat significa faça-se, como no “Faça-se a luz!”, fiat lux, do Gênesis. Usado para caracterizar o sistema de medida monetária manipulado controlado por governos, fiat quer mostrar que é um sistema em que o governo, arrogando-se de Deus, diz “faça-se mais dinheiro do nada”.
Agentes econômicos privados que se beneficiam muito de gastos governamentais, como empreiteiras, indústrias que vendem para os governos, meios de comunicação tradicionais e outros, também têm pouco interesse em que esse sistema fiat seja conhecido em seus graves efeitos. Assim, uma série de interesses se agregam para evitar que o sistema de medida de valor econômico seja corrigido e torne-se independente e fixo, como deveria ser.
O que é, então, feito para que o problema do sistema monetário não seja conhecido? Simplesmente são criados, enfatizados ou exagerados outros problemas e dizem que nossos sofrimento e inquietações são decorrentes desses outros problemas. Em suma, desviam nossa atenção.
Vou colocar aqui uma lista de exemplos de problemas que os privilegiados pelo sistema monetário fiat querem que acreditamos que sejam nossos problemas verdadeiros. Perceba que, praticamente, todos esses problemas não existiriam ou seriam extremamente minimizados, se o sistema fiat não existisse e fosse substituído por um sistema monetário verdadeiro.
Lista de problemas para distrair sua atenção do verdadeiro problema
Faz parte da própria patologia do sistema atual, da doença da nossa sociedade, falando mais claramente, que esses problemas surjam e sejam enfatizados. Realmente, é para distrair nossa atenção e não resolvamos o problema maior, que é o sistema monetário de medida de valor manipulado.
O padrão de desvio de nossa atenção do problema principal é, quase sempre, o de criar problemas e crises e depois estabelecer regras, leis e controles para solucionar ou amenizar esses problemas e crises.
A ideia é fazer as pessoas acreditarem que todos esses controles e regulamentações propostos por grupos de “especialistas” são necessários e esse é o caminho ideal da sociedade.
O objetivo final é fazer com que cada pessoa não precise usar seu próprio raciocínio crítico para aceitar ou não essa oferta coletiva de problemas e soluções, pois é esse raciocínio individual que tem que ser combatido para o sistema fiat e suas distorções e privilégios se perpetuarem. As pessoas não podem descobrir, uma a uma, sua própria capacidade de raciocínio e seu poder de escolha e, consequente, revelar a falsidade do sistema e optar por rejeitá-lo.
A mídia tradicional tem sido o principal instrumento de propagação e repercussão cultural dessas crises e problemas. Ela coordena e promove o pensamento de grupo que embota o raciocínio crítico e o questionamento individual.
Vamos a essas crises, principalmente as atuais:
Guerras e tensões internacionais: Criadas, promovidas e financiadas com dinheiro saído “do nada” pelo sistema fiat. Vide a atual guerra na Ucrânia e outras recentes (Iraque, Afeganistão). Ótimos alvos para desvios de culpa de problemas causados pelo sistema fiat, como a inflação mundial e o risco de uma inédita hiperinflação global.
Terrorismos: Conflitos entre grupos por territórios, imposição de ideologias e recursos, também financiados pelo sistema monetário fiat e motivados pela miséria e instabilidade emocional criada por ele em várias partes do mundo.
Mudança climática: Desvio de atenção dos verdadeiros problemas ambientais, que são a contaminação do ar, das águas e dos solos e, por consequência, dos alimentos, pela ação, há décadas, de grandes conglomerados industriais privilegiados pelo sistema fiat, como a indústria da má alimentação e a dos agrotóxicos e transgênicos.
Pandemias e emergências mundiais de saúde: Tentativa de criação forçada de um “Estado de Biossegurança”, com a justificativa de combate a ameaças à saúde emergentes ou planejadas. Desvio de atenção do verdadeiro problema de saúde, que é a fragilização do corpo por contaminação do ambiente, maus alimentos, vida antinatural e estresse, também decorrentes do falso sistema monetário “fiat”.
Divisão e disputas políticas entre esquerda e direita: Desvio de atenção do problema monetário para o político. Tentativa de polarizar a sociedade e manter a ideia arraigada de que as soluções para problemas humanos vêm dos governos e, por isso, é crucial definir quem vai ocupá-los. Na verdade, o problema “são” os governos e seu excessivo poder. Um governo pequeno, mesmo ocupado por um mau governante, não causa tanto problema.
Divisão ideológica entre progressistas e conservadores: Outra tentativa de dividir a sociedade em relação a temas que nem se tornariam problema, se as distorções do sistema monetário fiat não existissem. Tentativa de manter as pessoas defendendo pontos de vista extremos, em suas bolhas sociais e tribos (pensamento de grupo), e evitar a discussão de nuances e o raciocínio crítico individual, ponto a ponto. Alguns desses temas tomam vulto de novos problemas e crises sociais, como estes:
Problema do aborto: Problema em sua maior parte criado pela miséria e insegurança financeira e seus decorrentes conflitos de saúde, emocionais e sociais, gerados pelo sistema fiat. Numa sociedade próspera, em que as pessoas tivessem mais renda e patrimônio, dificilmente seria um assunto polêmico ou prioritário.
Transgenderismo e LGBTXYZismo: Promoção generalizada de uma questão exclusivamente de escolha pessoal entre adultos, com raros casos de necessidade de intervenção médica (disforia de gênero) em crianças ou adolescentes. Desvio dos transtornos de desconforto e traumas emocionais em famílias e adolescentes, decorrente também das inseguranças geradas pelo sistema fiat e suas distorções, para um problema falsamente precoce de ordem pessoal4.
Teoria crítica racial: Outra transferência de culpa de um problema real de origem econômica causado pelo sistema fiat e sua história de produção de miseráveis e privilegiados. Transferência de culpa desse problema para “branquitude” ou outros alvos, com clara intenção de divisão social e desvio de atenção do verdadeiro problema econômico.
Problemas das fake news: Falsa crise para atacar o direito de debate livre entre os seres humanos, a liberdade de expressão. Ideia de que as pessoas não são capazes de ouvir opiniões diferentes e contraditórias, tirar suas próprias conclusões e fazer suas escolhas livremente. Conceito totalitário de que “especialistas” podem decretar o que é certo e censurar opiniões que discordam deles. Caminho certeiro, parecido com a queima de livros na Alemanha nazista, para estados totalitários à la Orwell.
Essas crises e problemas forçados e exagerados têm como meta o estabelecimento de novas formas de controle da sociedade:
O “Estado de Biossegurança”, do qual falamos acima, a partir das crises de saúde e pandemias, com entidades centralizadas globais dando as ordens aos governos locais.
Controles financeiros e de uso pessoal do dinheiro, com a criação das moedas fiat digitais, os chamados CBDC, moedas digitais dos bancos centrais.
Tratados e agendas internacionais, como a Agenda 2030 da ONU, que supostamente estabelecem regras para resolver essas crises e problemas.
Novas políticas públicas e de controle promovidas ou recomendadas por órgãos internacionais privados e não-eleitos, como Fórum Econômico Mundial e think tanks.
Normalização de políticas públicas de restrição de liberdade econômica, de circulação e, inclusive, de saúde, como vimos nos últimos dois anos. Pode chegar à instituição generalizada de sistema de crédito social, em que as pessoas adquirem ou perdem maior liberdade conforme certos comportamentos, como já existe na China.
Desqualificação da autoridade da família e dos pais em questões de saúde física e mental dos filhos, agora tutelados por governos e suas leis. Isso também em relação à autonomia de educação.
Normalização da censura ao debate livre de opiniões e controles sobre a internet e redes sociais.
Extremo direcionamento da cultura, via televisão e grandes meios de comunicação, em relação às agendas acima.
É tanta coisa e artimanhas desnecessárias que dá até um mal-estar ao escrever, desculpem.
Como falei acima, o objetivo de desviar a atenção do público em direção a esses pseudoproblemas (“pseudo” porque ou não precisariam ser tratados como crise dessa maneira ou porque nem existiriam num sistema monetário não-fiat) é fazer com que as pessoas não pensem por si mesmas. Não treinem esse tipo de pensamento individual e crítico, que é o grande poder que temos, maior inclusive que o poder dos manipuladores e privilegiados do sistema atual.
Com muita gente fazendo esse treinamento e exercitando o raciocínio crítico pessoal no dia a dia, todo o falso sistema cairia brevemente por terra. Esse é o grande medo que os que se beneficiam dele têm.
Exageram um problema e propõem a solução de “especialistas” para ele, sem você precisar pensar ou aprender a pensar e criticar tanto o problema quanto as propostas de solução. É simplesmente esse o padrão. A gente conhecendo bem esse padrão, o próximo passo é exercitar o raciocínio crítico em relação a tudo o que nos oferecem de informação. E saber que podemos aceitar ou recusar as ofertas, livremente, a partir de nossa própria análise livre. Simples assim.
Na sociedade, tudo é uma relação de troca, é uma oferta que convida à aceitação ou recusa dela. Inclusive as informações, sugestões e soluções que a grande mídia nos transmite também são uma oferta. É uma oferta de contrato que você pode aceitar de pronto ou analisar primeiro e depois tomar a decisão de aceitar ou não.
Você saber que tem o poder de aceitar ou recusar (gentilmente, com um “não, obrigado”) essas ofertas, a partir do seu pensamento próprio, não de tribos ou bolhas, é o maior medo que as elites, os governos e os privilegiados do sistema distorcido atual têm.
Tá na hora de começarmos a exercitar esse poder de pensar por nós mesmos e de aceitar ou recusar as ofertas que os agentes sociais e os meios de comunicação nos propõem.
E nada melhor do que esse problema do sistema monetário controlado por governos, para você entender toda a análise crítica acima, pensar, repensar, concordar ou não com ela, escrever sua visão aqui nos comentários (abertos para todos comentar) e decidir por si mesmo se aceita ou recusa a tese de que esse sistema monetário comprometido e falso será assim para sempre e não precisa ser mudado. Será mesmo?
Se você chegar a esse ponto de pensamento crítico, deixarei no fim do artigo links para entender aquela que atualmente considero a melhor proposta de solução. A que sugere a adoção em larga escala pela humanidade de um sistema monetário incorrupto, limitado em quantidade (21 milhões de unidades), fácil de usar, descentralizado e incontrolável por governos e que qualquer pessoa pode adotar. Um sistema monetário que realmente mediria corretamente o valor dos bens e serviços da humanidade, orientaria melhor os investimentos e desinvestimentos e propiciaria a todos poupar e amealhar patrimônio decorrente de seu trabalho.
Esse sistema existe, a tecnologia dele está bem desenvolvida, os links estão abaixo. Basta você querer estudar mais e, principalmente, compreender que o valor dele não é seu preço atual ou futuro em moeda fiat, nem quanto de dinheiro podemos ganhar com ele (lembra que esse dinheiro atual é “farsa”?). É o valor que ele tem para a economia, a sociedade e o futuro da humanidade, como sistema de medida monetária correta que pode ser.
Muito obrigado por ler até aqui! Você é fantástico por ter tido essa paciência e interesse! Grande abraço!
Seguem os links de uma possível solução que já existe (o tratamento)
Atenção! Este artigo não constitui aconselhamento financeiro ou de investimento. Ele tem somente propósito educacional. Não invista seu dinheiro com base em informação recebida apenas de uma fonte.
Nem o presidente Bolsonaro conhece ainda essa solução, mas seria ótimo que, assim como fez o presidente de El Salvador, ele a adotasse.
O Leta escreve sobre essa tecnologia muito bem. Leia este texto do site dele para uma introdução relacionada com este artigo.
Outro artigo relacionado com a tese acima.
Tá bom pra você começar uma viagem de aprendizado e raciocínio crítico. Abração!
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Assista a este vídeo agora, se entende inglês:
A sequência de números naturais, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8… é um meio de medição também, no caso de quantidades. E esse é o meio de medição que é a base de todos os outros meios de medição. Mas aí, você poderia me dizer: “Mas esse meio de medição não é limitado, é infinito, pois os números vão até infinito.” Sim, mas não é esse conjunto deles o meio de medição, o conjunto é o objeto de medição. O meio de medição, nesse caso, é a unidade (1), que é completamente limitada. A unidade (1) é que faz passar do 1 para o 2, do 2 para o 3, do 3 para o 4, etc. O princípio da limitação necessária do meio de medição aplica-se até ao conjunto dos números naturais, que é infinito. Sem essa limitação seria impossível confiar na sequência de números naturais, pois não saberíamos quanto vale 5 (5 unidades), 90 (90 unidades) ou 700000000 (setecentos milhões de unidades).
Isso tem uma implicação no cálculo e variação do agregado macroeconômico (riqueza da economia como um todo)? Sim e não. Praticamente torna essa moeda de troca e poupança (trocas futuras) não-usável para expressão de valor do agregado. Mas o cálculo da variação dos agregados ainda é feito com uso da moeda, ou melhor, com o uso dos preços nessa moeda:
Por exemplo, considere um economia imaginária com 10 casas no total, no valor em moeda ideal de 20 unidades de moeda cada casa (total da economia, 200 unidades de moeda). Anos depois, com aumento de produtividade e riqueza, são 20 casas. O valor total de cada casa cai para 10 unidades de moeda (a moeda aumenta seu poder de compra com a maior riqueza), mas o valor total do agregado da economia nessa moeda de troca é 200 ainda. A quantidade de variação do agregado é 2 (aumentaram duas vezes mais casas), que, na verdade, pode ser calculada por meio do preço anterior divido pelo novo. Ou seja, a variação do agregado é calculada pela deflação (no caso de aumento da riqueza) ou inflação dos preços(no caso de diminuição da riqueza).
Em vez de falar que as pessoas “não estão no corpo certo”, o correto seria falar que os produtos “não estão no preço certo”, no sistema monetário fiat. E essa é a causa de vários problemas emocionais.
Muito bem escrito, esclarecedor, e numa linguagem agradável de ler, fácil de entender. Foi um dos melhores artigos sobre economia que li nessa jornada de estudos sobre o melhor dinheiro que existe! 😉
Muito bom, parabéns pelas reflexões, Dr Vítor. Pena que as criptomoedas ainda são tão desconhecidas, volúveis, e desprezadas pelo "sistema fiat" (governos & governantes, bancos & banqueiros, órgão & fóruns globalistas, "celebridades" & velha mídia em geral.